Tal como apostou no Brasil, na África do Sul ou na Rússia, pensou também em vender as suas criações na China. Não pode. O estilista Miguel Vieira, cuja marca é o seu nome e o logotipo a sua assinatura – tal qual como a do bilhete de identidade – viu-se impedido de fazer o registo do que criou naquele país asiático, porque já estava registado. Foi há oito anos e desde então, sem que desista, procura recuperar o que é seu. “Ao longo da minha vida, uma das preocupações que tive foi procurar registar a minha marca país a país, nomeadamente. Houve contudo um a que não dei grande importância, a China, por achar que nunca iria vender nada para lá. No entanto, de há uns anos a esta parte, comecei a verificar que a China representava um grande potencial, sobretudo porque nos apareciam vários clientes desse país. Há cerca de oito anos, recolhi toda a documentação necessária para registar a marca naquele país. Foi-me dito que não era possível, porque já estava registada”, conta Miguel Vieira.
Através de advogados, procurou entrar em contacto com a pessoa que fez o registo, no sentido de poder negociar. Foram-lhe pedidos dois milhões de euros. Não fez negócio, mas quando voltou a insistir da ideia de vender para China voltou a ser surpreendido.
“A pessoa que tinha feito o primeiro registo vendeu esses direitos a uma empresa que foi criada de raiz na China, que se chama Miguel Vieira Company. Por sua vez, a empresa registou o logoptipo e a assinatura Miguel Vieira em dez classes, onde inclui, além de vestuário e calçado, óculos, serviços, hotéis e até facas e garfos”, lembra o estilista. Multiplicado por dez registos, o dinheiro que a chinesa Miguel Vieira Company poderá ascender a 20 milhões de euros.
“Trabalhamos muito para exportação. Vendemos para fora cerca de 80% do que produzimos. Somos visitados inclusive por muitos chineses, não para copiar, mas com a intenção de comprar os nossos produtos para venda em lojas de boas marcas internacionais. Para eles, a nossa marca é apelativa, mas posso vender-lhes seja o que for, porque nesse caso estaria a fazer contrafacção da minha própria marca”, explica. Se é verdade que Miguel Vieira não pode vender na China, a Miguel Vieira Company também não o pode fazer fora daquele país. No entanto, tal como lembra o estilista, o mercado chinês é um mundo.
Com o apoio do Ministério dos Negócios Estrangeiros, da AICEP e do embaixador de Portugal na China, Miguel Vieira tem procurado reverter a situação, mas até agora sem sucesso. Desgostoso, afirma contudo que recusa desistir dos seus intentos. “É uma mágoa, mas este é um processo do qual não pretendo desistir”, afiança.